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Sexta-feira, 25 de Abril de 2008
ESPIONAGEM CIENTÍFICA, O REGRESSO AO FUTURO

O tribunal da cidade de  Moscovo rejeitou, ontem, o recurso dos advogados do académico Igor Rechetin, condenado em Dezembro por “ter fornecido à China tecnologias de dupla (civil e militar) aplicação”, a 11,5 anos de prisão em estabelecimento de regime severo. Em defesa do investigador e de mais três seus colaboradores, levantaram-se duas dezenas de nomes famosos das ciências do Espaço, desde directores de Institutos até astronautas condecorados. De acordo com os especialistas de aerodinâmica e ciências do espaço, a informação que Rechetin forneceu a uma empresa estatal chinesa, com contratos devidamente visados pelas autoridades, não tem nada de secreto. De acordo com o académico Iuri Rijov, chefe da comissão para a defesa dos cientistas, a acusação apresentou “especialistas” que “ninguém conhece nessa esfera da ciência e da técnica” sem trabalhos publicados nas áreas em causa, que “depuseram por encomenda da acusação”. “Como resultado põe-se na prisão gente que não é culpada de nada, com penas que não dão nem sequer aos assassinos que cometeram series de crimes”, acrescentou Rijov. Rechetin estava já em prisão preventiva há mais de dois anos, depois de que o FSB desencadeou contra a empresa “CNIIMACH-Export”, do qual Rechetin era director-geral, uma acção e acusou a direcção do instituto de estar a fornecer à China informações que podiam ser utilizadas com fins militares, inclusivamente para a produção de armas de destruição em massa. A empresa foi criada para desenvolver projectos de colaboração no âmbito do CNIIMACH, um instituto de vanguarda no campo da investigação espacial.

            O trabalho que os cientistas russos faziam para os chineses era o de efectuar ensaios em modelos de cápsulas giratórias para naves espaciais, e enviavam para a companhia nacional de importação e exportação chinesa, o referidos relatórios com os resultados dos ensaios efectuados. Os contratos começaram já em 1996, e foram enviados 25 relatórios técnicos. Como é exigido em contratos internacionais, estes foram submetidos a uma comissão especial que verificou que não dizia respeito a assuntos secretos e uma comissão de exportação que verificou que não estavam envolvidas tecnologias de dupla aplicação. Mas em finais de 2003, o FSB deu início a um processo crime alegando que se tratava de tecnologias de dupla aplicação. Os contratos assinados pela empresa criada por Rechetin tinham atingido um montante de 30 milhões de dólares e ele via já a possibilidade de chegar a 100 milhões nos próximos anos.

            Nos anos 90, quando a investigação cientifica russa atravessava uma profunda crise di financiamento e as pessoas que trabalhavam nos institutos de investigação debandavam, o estabelecimento de contratos com instituições estrangeiras era a possibilidade de salvar recursos humanos e equipamento. A firma de Rechetin permitiu dar trabalho a 200 trabalhadores do CNIIMACH.

            Igor Rechetin é filho de um famoso cientista, Andrei Rechetin, um dos pioneiros da indústria espacial russa, que diz que tudo isto é absurdo. “Essa informação (que a acusação considera secreta) está nos livros, nós estudávamo-la há 30 anos atrás”, afirma Rechetin pai.

            Segundo Alexandre Kraiko, director do departamento de Aero-hidrodinâmica do Instituto Jukovski, trata-se de uma informação acessível ao público que “está publicada nos EUA e na Rússia na imprensa de livre acesso”, e afirma que falar de tecnologias de dupla aplicação é simplesmente “pouco sério”.

            No entanto, Iuri Rijov, mostra poucas esperanças de que seja possível conseguir uma decisão diferente da justiça russa, dado que o processo avançou sob o controlo do FSB. Há vários outros casos em que cientistas foram acusados de ter vendido informações secretas para o estrangeiro. Entre os casos mais famosos estão Igor Sutiaguin, vice-chefe de departamento de investigações politico-militares do Instituto dos EUA e Canadá, condenado a 15 anos de prisão. E Valentin Danilov, físico da cidade de Krasnoiarsk, também ele acusado de fornecer informações secretas à China, condenado a 14 anos de prisão. Em ambos os casos, a defesa e os colegas afirmam que não existia nada de secreto na colaboração que estes mantinham de forma perfeitamente aberta.

            Durante a sua intervenção no tribunal, Igor Rechetin fez notar que, durante os 2,5 anos que já passou na prisão, “às várias doenças crónicas que já tinha, juntaram-se outras novas, como esquemia cardíaca e hipertensão”.


publicado por edguedes às 22:54
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