Uma questão que intriga muita gente, não só em Portugal, como em quase todos os países da Europa ocidental, é a elevada taxa de popularidade de que Vladimir Putin goza entre os russos. Parece difícil que o líder de um regime que começou com uma guerra (Chechénia), promoveu uma forte centralização, submeteu os principais meios de informação, reduziu a oposição à expressão mínima e que gere enormes recursos económicos, possa ter o apoio popular que as sondagens da opinião pública indicam para o presidente russo. No entanto, é um facto, Putin é verdadeiramente popular, e a maioria da população continua a ver nele o homem capaz de conduzir a Rússia a um destino de prosperidade e progresso, e de se colocar ao lado das grandes potências mundiais. Putin é um comunicador, uma pessoa capaz de impressionar positivamente os seus interlocutores, mostra-se decidido, sabe dar a entender que está por dentro das situações e que conhece o argumento de que está a falar. Os russos apreciam os que sabem assumir a autoridade e são capazes de tomar decisões. As experiências democráticas foram sinónimo de caos, de pobreza e às vezes de fome.
A liberdade de expressão é uma coisa que parece ser necessária só para uma pequena classe intelectual. Numa conversa recente com Alexei Venediktov, chefe de redacção da rádio Ecos de Moscovo, um dos poucos bastiões da Imprensa livre na Rússia, tocou-se no tema da defesa da liberdade de expressão que existia nos anos 90, e cujo início da supressão foi marcado pela mudança de propriedade da NTV, o canal privado de âmbito nacional, actualmente propriedade da companhia estatal Gazprom. “Na Rússia a liberdade de expressão era considerada um luxo. Podes ter ou não ter, é um prazer, mas é inútil. O problema principal é que o povo não precisa dessa liberdade de imprensa e por isso não vai lutar por ela. Ela foi dada por Gorbatchov e Ieltsin, e foi retirada por Putin”, afirma Venediktov, segundo o qual o povo nunca estaria disposto a sair à rua para defender a independência da NTV, a exemplo do que se passou em Praga. “Não lutaram nem derramaram sangue” para defenderem a liberdade de expressão, “foi uma coisa que por acaso nos apareceu nas mãos e, por acaso, foi retirada”. A lógica que explica a atitude perante o controle dos meios de comunicação estende-se também a outros domínios como os direitos humanos, o pluralismo partidário, etc. Foram dados “de cima” e foram retirados (parcialmente) da mesma forma. A maioria das pessoas acredita que os motivos porque esses direitos foram retirados têm razão de ser, que essas medidas foram feitas em nome dos objectivos que a elite política pretende atingir (uma Rússia forte e próspera), e acredita (ou faz um esforço para acreditar) que eles (governantes) sabem onde querem chegar.
A ideia de criar um blog não é muito original e não vale a pena tentar justificar-me por me ter metido em tal empresa. Para mim, a causa fundamental é que nas minhas andanças jornalísticas e pessoais pela Rússia vão havendo coisas que gostava de contar e que não arranjo espaço nem no JN nem no SOL. Há notícias que não têm cabimento nos jornais e há coisas que podem não ser notícia mas não deixam de poder ser interessantes para algumas pessoas. Além disso no blog ninguém me obriga a “cortar” um texto para “2220 caracteres no máximo”, o que é sempre uma tarefa penosa. Começa-se por cortar aquilo que se acha que é dispensável, depois o que parece que não se devia mas tem que ser, depois o que não se podia cortar mas não há outro remédio e no fim corta-se o que não se podia cortar em caso nenhum, mas doutra forma o artigo não cabe no espaço que o editor estabeleceu. Aqui a gente pode estender-se até onde a paciência der. A propósito de paciência devo confessar que quase cheguei às últimas gotinhas durante as primeiras tentativas de criar esta paginazinha. Primeiro era o registo que não me aceitava os dados sem explicar porquê. Até perceber que a culpa era dos meus telefones russos que não estavam concebidos para as regras do Sapo, passou-se quase uma hora (os números que lá ficaram não servem para nada). Depois perceber como é que se mudava a fotografia do cabeçalho da “template” (será que é “a” ou “o”?), e enfim tudo o resto que foi preciso até me decidir a tentar lá meter um texto. Sinceramente ainda não estou muito satisfeito com o aspecto que o blog tem, mas devo admitir que não sou muito perfeccionista. Com o tempo lá iremos.
Não sei bem com que regularidade é que vou conseguir dar notícias, mas acho que o vício de escrever me vai continuar a pressionar, e até pode ser que haja alguém que leia. Para já tenho que experimentar se consigo meter este texto no “template” (agora vai no género masculino para equilibrar) e contemplar o resultado. As coisas mais sérias ficam para depois.