Nos dois últimos dias, vieram à tona algumas notícias que, à primeira vista davam a entender que havia progressos nas investigações do caso do assassínio de Anna Politkovskaia. Primeiro foi o procurador geral adjunto Viatchslav Smirnov, a declarar que era conhecida a identidade do executor do crime, adiantando que o nome estava ainda em segredo de justiça porque o homem não tinha sido detido. São, actualmente, nove os acusados no caso Politkovskaia. No dia seguinte o jornal “Komsomolskaia Pravda” publicou o nome do suspeito executor. Trata-se de um oriundo da Chechénia, Rustam Makhmudov, de 30 anos. Obviamente o quotidiano moscovita não divulgou as fontes que lhe revelaram o dito segredo de justiça. A advogada da família de Anna Politkovskaia, em entrevista à rádio Ecos de Moscovo, mostrou-se desagradada com a divulgação do nome do “pistoleiro”. “O homem ainda não foi encontrado, porque é que se divulga na imprensa o seu nome, será para o avisar para que se esconda melhor?”, comentou a advogada Anna Stavitskaia.
No entanto, as novidades não são muitas quando se compara com o que já fora anunciado em finais de Agosto do ano passado. Nessa altura foi divulgada uma lista de nomes de suspeitos que tinham sido presos por ligações ao assassínio da jornalista. Também nessa altura houve pelo menos um nome que apareceu nos “media” antes de a polícia ter detido o suspeito. Tratava-se de Chamil Buraev, também este checheno, e que tinha sido chefe da administração da cidade de Atchkhoi-Martan (Chechénia). Foi quase por sorte que a polícia lhe conseguiu ainda deitar a mão antes que este desaparecesse nalgum “buraco”. Entre os detidos estão também três irmãos de Rustam Makhmudov, de nomes Ibraguim, Djabrail e Tamerlan, ao que parece naturais também de Atchkhoi-Martan. Por isso é pouco provável que o executor não tenha percebido que a polícia anda atrás dele, o que torna obviamente mais difícil a sua captura. Recorde-se que foi detido também um oficial do FSB (Serviço Federal de Segurança) que teria fornecido a Chamil Buraev, dados sobre a residência de Anna Politkovskaia. Chamil Buraev é apontado como o possível organizador do crime, mas está ainda por saber se o haverá ainda um nível mais alto de decisão. Por outro lado, Serguei Makarin, do Comité de Investigação da Procuradoria afirmou à agência Interfax que a identidade do executor directo do homicídio da jornalista já tinha sido estabelecida em Outubro passado. De modo que não se percebe muito bem - houve ou não alguns progressos na resolução do caso, nos últimos tempos?
"NO MEU PAÍS HÁ A MAIOR PRAIA DE AREIA BRANCA DA EUROPA"
é o que diz Cristiano Ronaldo para convencer os russos a irem ver a nossa terrinha
"A CAPITAL DO MEU PAÍS É A ÚNICA DA EUROPA ONDE O SOL SE PÕE SOBRE O MAR"
é o argumento mais poético de Mariza, mesmo se é discutível. Mas para aumentar as entradas do turismo podemos promover o Guincho o o Cabo da Roca a parte integrante da capital.
De qualquer forma, os ditos cartazes, poucos por sinal, mas colocados nalguns pontos estratégicos de Moscovo, soaram-me a uma espécie de "boas-vindas" depois de uma curta ausência minha de Moscovo. É sempre agradável ver que Portual tenta marcar presença.
Entre os russos, o Cristiano Ronaldo é certamente muito mais conhecido que a Mariza, embora a cantora também tenha tido salas cheias em Moscovo. A minha dúvida é até que ponto é que os fãs russos do futebol terão uma recordação positiva do Ronaldo. Certamente há alguns fãs do Manchester United, e quem não perca os jogos da liga inglesa. Mas, cá para mim, a recordação que ainda salta com mais frequência ao de cima é a de um famoso 7-1, em Alvalade, num jogo das selecções, aqui há uns anos atrás, que ainda vai aparcendo nos pesadelos nocturnos de quem pretende sonhar com um brilharete da Rússia no próximo campeonato da Europa.
O impacto dos ditos cartazes não será muito grande, mas já é um sinal da presença de um pequeno país que fica lá no outro canto da Europa.
A imprensa russa está sempre muito atenta às notícias publicadas na revista “Forbes”. As últimas sondagens da Forbes indicavam que entre os cidadãos deste mundo cujas poupanças ultrapassam os mil milhões de dólares há 87 russos. Nesta competição, a Rússia vai em segundo lugar, depois dos EUA, com 469 (só!) ricões, e deixando para trás a Alemanha que conta com 59 “milhardários”. A este propósito devo queixar-me da falta da palavra adequada na nossa língua, talvez porque estas questões pouco afectem o nosso quotidiano. Os ingleses têm “billionaire”, os franceses “milliardaire”, os italianos “miliardario”, mas nós devíamos dizer “mil milionário” ou “milhar milionário”, dado que o "miliardo" não existe em português e o bilião fica três ordens de grandeza acima, apesar das confusões que aparecem em certas traduções do inglês... Bom, deixando as gracinhas de lado e voltando à Rússia. Outro ponto das notícias da Forbes que me chamou a atenção foi que Moscovo é a cidade no mundo com maior concentração de desses mesmos “milhardários”. Nada menos do que 74 espécimes. É claro que não são assim tantos que a gente corra o risco de se cruzar com eles nas escadas do metropolitano. No entanto, devo admitir que alguns sinais exteriores de riqueza se notam, mas provavelmente não são só esses 87, que (ainda segundo a Forbes) no ano passado só eram 55. Aliás, segundo “The Guardian”, que também se meteu a fazer as contas nos bolsos dos russos e encontrou mais alguns, haveria 101 “milhardários”, onde outrora era o núcleo duro da promoção da revolução do proletariado. Para além destes super ricos, há outros que não têm direito a estar nas listas da Forbes, porque são só milionários, mas se o dólar continuar a cair e o petróleo a subir, lá chegarão. O Centro de Estudos Estatísticos da seguradora Rosstrakh, descobriu que há mais de 200 mil famílias nas Rússia, cujos rendimentos ultrapassam o milhão de dólares por ano, e dizem que é aproximadamente o dobro do que havia há um ano atrás. Outro dado interessante é que a fortuna dos 500 russos mais ricos chega a 715 mil milhões de dólares, o que é mais de metade do PIB da Rússia.
Numa rua, estreita por sinal, aqui ao lado de casa, há um restaurante, que dá pelo nome de “Cantineta Atenori”, onde se vêm à porta – dado que o restaurante não previu um estacionamento interno e privatizou uma parte da via pública – alguns desses sinais exteriores de riqueza. Às vezes um Rolls Royce prateado, outras vezes um preto, um Bentley (os Mercedes e Lexus são o mínimo para entrar no restaurante). E às vezes permite umas surpresas aos visitantes menos preparados. “Hoje vi um ‘Maybach!’”, dizia-me surpreendido um amigo suíço de passagem por Moscovo, mas enquanto a gente falava passava outro, como que a confirmar a normalidade das extravagâncias moscovitas.
No entanto, toda esta ostentação convive com outra realidade que se encontra continuamente também nas ruas desajeitadas e nos prédios a pedirem reparações de Moscovo, para não falar já da Rússia interior. As “boas pensões de reforma” andam à roda de 3 mil rublos (85 euros) na maioria das cidades russas, e cerca de 5 mil (143 euros) em zonas privilegiadas, como Moscovo, onde o poder municipal acrescenta uns trocados, para que a reforma se aproxime do cabaz mínimo local. Uma sondagem feita pela Fundação da Opinião Pública em meados de 2005 (agora a situação pode ser ligeiramente melhor) indicava que 81% dos reformados recebia menos de 3 mil rublos (85 euros). Actualmente os reformados devem ser cerca de 20% da população total (143 milhões) o que corresponde a 28,6 milhões. Um estudo feito em 2004 indicava que 33% da população se encontrava abaixo do limite de pobreza. Esta situação tem tendência para melhorar, mas “melhora” muito mais rapidamente para os ricos do que para os pobres. O salário médio, na Sibéria, segundo a agência Regnum, é quase 12 mil rublos (340 euros). Em Moscovo ultrapassa os 20 mil (570 euros). Mas as médias enganam porque a diferença entre os rendimentos dos pobres e os dos ricos (também isto calculado fazendo médias de uns e de outros) difere de um factor de 17.
Hoje o politólogo Serguei Markov, um dos mais fiéis defensores da política do Kremlin, que agora também é deputado, enunciou as principais “façanhas” de Vladimir Putin durante os dois mandatos. De acordo com Markov, os feitos são 1- a vitória militar no Cáucaso (leia-se Chechénia), 2- a vitória sobre os oligarcas e o controle sobre o petróleo e o gás, e 3- a vitória sobre a crise económica. Markov argumentou ainda, para elucidar a questão da vitória sobre os oligarcas, que “se naquela altura tivesse passado a proposta da Yukos (segundo Markov esta teria um forte lobby no parlamento russo) de não aumentar as taxas sobre o petróleo e o gás em proporção aos preços mundiais, todo o dinheiro que nós temos hoje teria passado ao lado do estado, dos reformados e teria ido parar às mãos de Boris Berezovski e outros oligarcas”.
Comparando a 2ª “façanha” de Putin, como lhe chama Markov, com os resultados da revista Forbes e outros, parece que há alguma coisa que não encaixa perfeitamente...
Encontrei uma notícia no portal do canal Kultura que aqui refiro:
http://www.tvkultura.ru/news.html?id=214312
a notícia tem lá um botão para ver um mini video com parte de entrevista e algumas imagens do espectáculo. O link para o vídeo é:
http://www.tvkultura.ru/video.html?id=64002&doc_type=rnews&doc_id=214312
e para quem não percebe o russo dos comentadores, a conversa reza assim (o texto na notícia é o mesmo da voz no vídeo):
Dulce Pontes deu um concerto a solo na Rússia
A cantora Dulce pontes pela primeira vez deu um concerto a solo na Rússia. Na Casa da Música ouviram-se composições do género Fado. Pontes interpreta motivos da música popular portuguesa já há duas décadas. Apesar de que poderia ter sido pianista, ou crítica de música, porque estudou no Conservatório, ou bailarina – dado que durante alguns anos se dedicou à coreografia. Mas escolheu o fado – uma forma única de “blues” portugueses. Referem as “Notícias da Cultura”
Dulce Pontes, cantora: “Muitos acham que a música tradicional portuguesa é triste, melancólica. Certamente que o fado é abertura da alma, saudade daquilo que te é infinitamente querido e que se perdeu. Mas para mim é sobretudo a sublimação da tristeza”.
A tradução do português de fado significa “destino” – são canções sobre as vicissitudes da vida dos pobres, da crueldade das tragédias do mar, saudade da terra (pátria). No entanto, frequentemente são cheias de notas alegres, de ironia e de brincadeiras picantes. Nelas combina-se a repercussão dos ritmos africanos, o canto dos marinheiros portugueses e melodias árabes. Normalmente ouvem-se em restaurantes especiais – as “Casas de Fado”. Graças a Dulce Pontes, a canção portuguesa dos clubes passou para o grande palco, das mais prestigiosas salas europeias, em Londres, Roma ou Milão. A actuação da cantora no programa de Moscovo foi acompanhada por um conjunto de sete músicos que tocam em verdadeiros instrumentos portugueses.
Iulia Kasiukova
“Notícias da Cultura”
Dulce Pontes deu hoje um concerto na Casa da Música de Moscovo, a sala nobre da capital russa, construída recentemente e que permite concertos com grande qualidade. O concerto foi uma iniciativa da própria Casa da Música, aparentemente sem patrocínios de entidades oficiais
A casa estava quase cheia apesar de quase não ter havido publicidade. Antes do início do concerto lá se conseguiu arranjar uns minutinhos para um breve “encontro com a Imprensa”. Dulce Pontes admitiu que estava um pouco nervosa por não ter ideia de como poderia reagir o público russo. De qualquer forma, no final do concerto acabaram todos aos saltos com a “Laurindinha chega à janela”. É mais fácil comunicar com a música do que através da língua.
Houve quem visse uma violação à lei, na letra de “Os ìndios da Meia Praia”, quando Dulce Pontes pronunciou “das eleições acabadas, do resultado previsto, saiu o que tendes visto...” Parecia uma boca para as eleições presidenciais russas, onde certamente tudo sairá como previsto. Hoje era dia de reflexão e a propaganda era proibida. Ainda são capazes de ir pedir contas ao Zeca Afonso...