Nos últimos dias definiram-se quem são os membros do governo de Vladimir Putin e os colaboradores directos do presidente Dmitri Medvedev. Na minha opinião, estas nomeações são o primeiro indicador sério da orientação política do novo presidente. Quando digo “orientação política” é claro que não significa que alimentasse ilusões de que com Medvedev iria começar uma nova abertura ou qualquer outra mudança de grandes proporções. No entanto, o novo presidente eleito poderia querer dar mostras de ser uma figura política autónoma com una visão própria, pelo menos sobre algumas questões. Creio que não houve nenhum sinal visível de que Medvedev possa querer mudar alguma coisa. Tudo parece indicar uma continuidade, dando um grande relevo à figura do primeiro-ministro (Putin). É provável que as linhas gerais da política interna e externa continuem a ser definidas pelo antigo presidente, mas isso vamos ver mais à frente.
O facto é que Medvedev não trouxe para a sua equipa de colaboradores estreitos quase nenhuma cara nova. O chefe da Administração do presidente è Serguei Narichkin, que já tinha passado pelo Kremlin (vice-chefe do Direcção Económica da Presidência), antes de ter ido para o governo. Fica na equipa de Medvedev e com uma posição mais influente Vladislav Surkov, que de vice-chefe da Administração do Presidente, passa a “primeiro-vice-chefe”. Surkov é considerado o “arquitecto” dos projectos políticos do Kremlin, desde a criação de partidos políticos (fiéis ao presidente) até à organização juvenil “Nachi” (“os nossos”) e outras iniciativas para fortalecerem a vários níveis a influência do Kremlin. Outras figuras de destaque dos mandatos de Putin ficaram para continuar a servir a causa sob a batuta de Medvedev. O secretário para a Imprensa de Putin, Alexei Gromov, passou a ser vice-chefe da Administração do Presidente, e foi substituído na qualidade de porta-voz para a Imprensa por Natalia Timakova, que era chefe do serviço de Imprensa de Putin. Além disso, Medvedev acolheu como conselheiros dois anteriores ministros que foram “despedidos” do governo de Putin. Trata-se do ex-ministro da Saúde, Mikhail Zurabov e do ex-ministro das Comunicações Leonid Reiman. Pode ser considerado um sinal importante a saída de Igor Setchin (antes vice-chefe da Administração do Presidente) para o governo, acompanhando Putin. Mas mais do que uma exigência de Medvedev, para se libertar de um homem da linha dura dos ex-KGBchnikis, trata-se provavelmente de uma exigência de Putin que pretende ter no seu governo gente da sua inteira confiança.
A única indicação de uma figura nova, da confiança do novo presidente foi a entrada de Konstantin Tchuitchenko, um colega de curso de Medvedev, que entrou para o Kremlin com o cargo de “chefe da direcção de controle”, e deverá verificar como é que os Ministérios e Instituições do Estado cumprem os decretos do executivo.
Por enquanto, Medvedev não dá sinais de independência, e tudo leva a crer que se está num rumo declarado de “continuidade”. Se alguém estava à espera de uma maior abertura pelo facto de Medvedev não ter vindo do KGB, vai ter de continuar à espera...