as coisas que conta um português que anda pela Rússia
Sábado, 21 de Novembro de 2009
ASSASSÍNIO DE SACERDOTE CHOCA MOSCOVO

 

 

(Artigo feito para o JN, limitado a 1200 caracteres, e que não apareceu na edição on-line)

 

O padre ortodoxo Daniil Sissoev, foi assassinado na sua igreja, em Moscovo, ao princípio da noite de quinta-feira. De acordo com as testemunhas, por volta da 22.40, o assassino, com o rosto coberto por uma máscara sanitária, entrou na igreja, onde ainda estavam alguns fiéis, perguntou “quem é Sissoev” e quando o sacerdote avançou, disparou quatro tiros. Ficou ferido também o director do coro, Vladimir Strelbitski. As autoridades pensam que o motivo do crime possa estar relacionado com a actividade do sacerdote. Ele era exercia uma actividade intensa entre muçulmanos e membros de seitas, e promovia debates sobre temas religiosos. No seu blog, a 9 de Outubro, Sissoev escreve que recebeu uma ameaça de morte por parte de um muçulmano, e afirma que é já 14ª que recebe, “mas desta vez foi pelo telefone”. No mesmo blog o sacerdote afirma que “quase todos os meses” baptizava muçulmanos. Daniil Sissoev chegou a enfrentar uma causa movida por uma jornalista muçulmana que alegava ter ouvido da boca do sacerdote “palavras carregadas de ódio para com o islão e os muçulmanos”.

No entanto, as autoridades consideram que o crime pode ter sido cometido por membros de seitas, contra as quais o padre Daniil se pronunciava frequentemente.

 

Comentários e informações adicionais.

 

O padre Daniil é descrito por Alexei Makarkin, como um sacerdote “politicamente não correcto”. Isto porque a sua linha era a de não deixar em paz os crentes de outras religiões e membros de seitas. Frequentemente entrava em discussão com quem defendia outros pontos de vista. Era adepto de um apostolado activo e insistente, daí o ter criado uma “escola de missionários de rua”. Makarkin diz que o padre Daniil baptizou, nos últimos anos, mais de 80 muçulmanos. O quadro que se apresenta leva realmente a suspeitar que elementos de grupos intolerantes poderiam ter decidido eliminá-lo.

O padre Daniil era casado e tinha três filhos, o que está de acordo com as tradições ortodoxas. Aliás ele era, por sua vez, filho de um sacerdote. A sua esposa, Iúlia, confirmou ao portal “life.ru” que ele tinha recebido ameaças por e-mail e por telefone. “Eu não sei com quem ele contactava. Ele contactava com muita gente. Não sei se o ameaçavam também pela frente, ou não. Encontrava-se com muita gente, incluindo os líderes de grupos extremistas, tinham discussões. Muitas das suas acções chegavam a um resultado. Baptizava-se até quem antes tinha sido terrorista”, afirmou a viúva. 



publicado por edguedes às 16:37
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ALEXANDRA: AUTORIDADES RUSSAS PREFEREM NÃO FALAR

 (artigo feito para o JN, limitado a 1500 caracteres, mas que não apareceu na edição on-line)

 

Pretchistoe, onde vive a Alexandra, desde que a mãe, Natália Zarubina, a levou para a Rússia, tem sido visitada por funcionários de Moscovo, para avaliar as condições em que a menina vive. No entanto, Iuri Kudriavtsev, vice-chefe da administração municipal e presidente da comissão de menores, preferiu não arriscar declarações e indicou que a posição oficial se pode inferir das declarações de Natália Iakovleva, responsável pelos direitos das crianças no gabinete do “encarregado para os direitos humanos” junto da presidência russa, ao jornal “Moskovski Komsomolets”. Contactada pelo JN, Natália Yakovleva limitou-se a afirmar que “acompanhamos o desenvolvimento da situação e preocupamo-nos com o destino da Sandra, e com a defesa dos seus direitos e interesses”, mas considera que “uma atenção exagerada da Imprensa” não ajuda, e prefere não fazer outros comentários. Diz que o jornal moscovita que reporta as suas declarações o fez, fora do contexto e sem o seu consentimento. Segundo o matutino russo, Iakovleva tinha afirmado que “as conversas sobre a entrega da Sandra a um orfanato são prematuras. Hoje não se coloca a questão da privação dos direitos maternos à sua mãe.” Na sua opinião, “a situação não é tão crítica como a tentam apresentar na Imprensa”.

Entretanto, a agência Lusa informou que foi enviada uma petição ao presidente russo, Dmitri Medvedev, assinada por 700 cidadãos de 15 países a pedir envie “à vila de Pretchistoe uma comissão para esclarecer como é que são cumpridos os compromissos assumidos pelo Estado Russo”, no referido caso.

 

Comentários adicionais.

As tentativas de fazer dizer qualquer coisa à Sr.a Natália Iakovleva revelaram um receio da comunicação social, um pouco estranho para quem ocupa um cargo publico no domínio dos direitos humanos. Primeiro, ao telefone ela mostrou-se pouco disponível e insistia em que não queria dizer nada, porque a Imprensa “distorce” o que se diz. Mas confrontada com as declarações que já tinham aparecido no Moskovski Komsomolets e que ela dizia que tinham sido distorcidas, acabou por concordar com um encontro “dentro de uma hora”. Quando lá cheguei ela fez questão que esperássemos por um colega, Grigori Bondarev, conselheiro do encarregado para os direitos humanos junto da presidência, "para não falar sem testemunhas". Conversámos um bocadinho, mesmo se a Sr.a Iakobleva com um esforço evidente evitava adiantar informação sobre a questão da Alexandra. Quando comecei a fazer perguntas ela fez-me a proposta de fazer a perguntas por escrito que ela responderia por escrito. Assim poderia esta mais segura do que dizia e podia consultar-se. Aceitei. Vim para casa e pus-me a fazer a perguntas. Entretanto eram 19.00 horas e ela só as viu no dia seguinte. Por volta das 15.00 telefona-me a dizer que queria responder oralmente. A resposta era, além de uma crítica aos meios de comunicação (que em geral são os culpados pelos males que há no mundo), limitar-se a dizer que estavam a seguir a situação e que não queriam fazer comentários. O que é que poderia haver de tão secreto???

Durante a pequena conversa que tivemos no seu gabinete, eu percebi que Natália Iakovleva estava contrariada com a publicação do Moskovski Komsomolets, mas que o que ali reportavam eram de facto palavras suas. As suas queixas é que estavam fora do contexto e que ninguém a tinha avisado de que lhe queriam fazer uma entrevista.

Enfim, os hábitos de não revelar o que se faz, mesmo se de interesse público, continuam a estar presentes por estes lados.



publicado por edguedes às 15:47
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Segunda-feira, 9 de Novembro de 2009
Vitali Ginzburg

 

Soube-se hoje da morte Vitali Ginzburg, prémio Nobel da Física em 2003, e um dos grandes expoentes da ciência do séc. XX. De nome conhecia-o desde os bancos da faculdade, pela teoria de Ginzburg-Landau, e por ser co-autor com o mesmo Lev Landau de alguns livros física. Pessoalmente conheci-o numa recepção da embaixada portuguesa em Moscovo, pouco depois de ele ter recebido o prémio Nobel. Alguns dias mais tarde aceitou dar-me uma entrevista para “O Independente”. Acrescento uma parte dessa mesma entrevista para recordar o cientista e o homem.

 

P.: Na URSS houve um grande desenvolvimento de alguma áreas científicas, por outro lado o poder restringia as liberdades e chegava a interferir no âmbito da própria ciência...

 

V.G.: É preciso ter em conta que havia situações muito diferente nos tempos soviéticos. Uma coisa era a física e outra a biologia. Até à altura da revolução os únicos russos que receberam o prémio Nobel eram dois biólogos, Pavlov e Mechnikov (Ivan Pavlov em 1904 e Ilya Mechnikov em 1908). Eu não sou biólogo mas posso citar nomes de grandes biólogos como Koltsov ou Vavilov. O que aconteceu a Nikolai Koltsov, se morreu ou se o envenenaram, não se sabe. Mas o que se passou com Nikolai Vavilov sabe-se. Ele era um botânico muito conhecido e morreu em na prisão em 1943. O que se passou ficou conhecido pela “lisenkovania”. Lisenko (Trofim Lisenko, biólogo soviético) foi um personagem que conseguiu entrar nas boas graças do poder de então, inicialmente com Estaline e depois com Khrushchov, e praticamente destruiu a biologia soviética. Em 1938 houve uma sessão em que Lisenko discursou, e alguns opuseram-se, mas depois ele fez saber que Estaline o apoiava, e os que se tinham agitado, foram perseguidos, e foi a biologia foi arrasada completamente. Só depois de ter sido deposto Khrushchov, em 1964, é que se começou a criar novamente a biologia soviética. Eu lembro-me que só em 1965 é que apareceu o primeiro artigo a criticar Lisenko. Com consequências menos graves foram atingidas foram outras áreas. A cosmologia também era considerada uma coisa negativa, a cibernética... Mas os físicos em geral não sofreram assim muito.

 

P.: Porque é que a física teve um tratamento diferente?

V.G.: Porque era necessário produzir armas. Houve, no entanto, a questão da mecânica quântica. Alguns afirmavam que a mecânica quântica estava em contradição com o materialismo dialéctico, e houve sérios problemas. Em 1949 havia intenções de fazer com a física a mesma coisa que tinha feito Lisenko com a biologia. Preparava-se uma reunião, e eu estava para ser uma da vítimas desse tempo, deviam liquidar-me. Não se sabe ao certo come se passaram as coisas, mas diz-se que Kurtchatov (Igor Kurtchatov, “pai” da bomba atómica russa) disse a Beria (Lavrenti Beria, então presidente do conselho de ministros) “sem a mecânica quântica não podemos produzir a bomba atómica”. Era antes da explosão da primeira bomba. A reunião foi suspensa sem se saber porquê, o que significa que houve uma intervenção directa de Estaline. Beria teria afirmado que “o que nós precisamos é da bomba”, e Estaline cancelou a reunião. O facto de a física se ter desenvolvido entre nós, assim como a matemática, e um pouco menos a química e as outras ciências, foi porque de uma forma significativa eram necessárias para a corrida aos armamentos.

 

P. : O prof. Ginzburg que relações teve com outros físicos famosos como por exemplo Lev Landau ou Andrey Sakharov?

V.G.: Eu considero meus mestres Igor Tamm e Lev Landau. Na minha “Lição Nobel”, eu sublinhei a minha satisfação pelo facto de que também eles tinham já sido prémios Nobel (Tamm em 1958 e Landau em 1962). Com eles eu estive muito ligado. Com Igor Tamm eu estive ligado ainda por motivos de organização, dado que eu era o seu vice, e depois quando ele morreu, em 1971, tornei-me chefe do departamento que ele dirigia. Com Landau não havia uma ligação formal. Eu frequentava os seminários que ele dava, e considero-o um dos meus mestres. No que respeita a Sakharov, ele em 1945 trabalhava no nosso departamento. Depois ele foi para o “local dos trabalhos” (laboratório ligado à construção da bomba atómica em Sarov), mas voltou em 1949, e até 1971, eu era formalmente o seu chefe. Fui visitá-lo a Gorki quando ele foi exilado, e recusei-me a assinar a carta em que ele era criticado. O projecto da bomba termonuclear (bomba de hidrogénio) era baseado em duas ideias, uma de Sakharov e a outra minha. Mas a mim não me mandaram para o “local dos trabalhos”, porque a minha mulher tinha sido perseguida e exilada.

 

P. O prémio Nobel foi-lhe atribuído pela teoria fenomenológica que explica a Supercondutividade e a Superfluidez...

V.G.: A questão da supercondutividade e da superfluidez é um assunto de que me ocupo já desde 1943, por isso difundiu-se a ideia de que se trata de um trabalho com mais de 50 anos, o que em parte é verdade, mas eu continuo a interessar-me por esse argumento, e o meu último trabalho sobre supercondutividade data de 1997. No entanto, a parte mais importante do trabalho foi o artigo escrito em conjunto com Landau, que foi publicado em 1950, e que ficou conhecido como a teoria de Ginzburg-Landau. 



publicado por edguedes às 21:33
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KRASNOIARSK

 Algumas fotografias de Krasnoiarsk (no meio da Sibéria), onde encontrei (inesperados) -20º. Ao contrário do que pode parecer é um tempo óptimo, desde que não se passe muito tempo na rua. Para ser sincero, as fotografias foram tiradas quando já estava -15º... um calor siberiano.



publicado por edguedes às 16:08
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