Não são muitas as presenças de representantes da cultura nacional em terras russas. Este fim de semana Moscovo teve a ocasião de ver a Companhia Nacional de Bailado com a representação de “Pedro e Inês”, no contexto do festival internacional de dança contemporânea “Dance Inversion”. Apresentar bailado “made in Portugal” na capital da dança clássica é um risco, e o facto de ter havido coragem de o correr é já extremamente positivo. Entre as várias peripécias, houve enormes problemas com o transporte do equipamento que conseguiram desalfandegar da antevéspera do primeiro espectáculo. Os dois espectáculos, no teatro Stanislavski, contaram com a casa praticamente cheia (1400 lugares, segundo uma entrevista do director do teatro), com um público predominantemente jovem. Ficou-me a dúvida se as pessoas que estavam ao meu redor podiam ligar as cenas à história que inspirou Olga Roriz. No final, os aplausos foram longos, mas não muito intensos, o que leva a crer que deixou nos espectadores impressões diversas. As críticas nos jornais evidenciavam surpresa pela “piscina construída no palco”, onde “os intérpretes podem só mostrar beijos e abraços naturais, e o papel de coreógrafo é deixado à água” (Anna Galaida, do diário “Vedemosti). “Salvam o espectáculo as cenas mais arriscadas”, escrevia Tatiana Kuznetsova do jornal Kommersant, referindo-se à dança na “piscina” de um palmo de água, mesmo se, “com água pelo joelhos, não dá para grandes rasgos de dança, voltas, corridinhas e salpicos”, mas exactamente nessas cenas a jornalista viu “uma autêntica paixão espontânea, que não é fácil de mostrar no palco do bailado”. Apesar de vários senões, que me parece preferível saltar, a jornalista afirma que “resgatam o ballet uma simplicidade desenfreada e a autenticidade dos sentimentos que talvez seja possível só aos habitantes da península Ibérica, confim europeu da dança contemporânea...”