as coisas que conta um português que anda pela Rússia

Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009
O AFEGANISTÃO, A RÚSSIA E A COLIGAÇÃO

 

 

Os noticiários de hoje voltaram a falar do Afeganistão. O balanço em Cabul foi de 19 mortos e cerca de 50 feridos, nos ataques com realizados a dois Ministérios com bombistas suicidas. Morreram também 8 guerrilheiros. Em Moscovo era o aniversário da retirada da tropas soviéticas daquele país e o Afeganistão esteve em debate. Entre os pontos salientes, os erros dos estrangeiros no Afeganistão, as medidas indispensáveis, o diálogo com os talibãs, e as eleições presidenciais previstas para este verão.

Ruslan Auchev, general, veterano do Afeganistão e presidente da Inguchétia durante vários anos, considera que os erros que os soviéticos cometeram estão a ser repetidos. “Ao introduzir um contingente militar nós cometemos outro erro: iniciámos acções de combate a pedido dos governantes do Afeganistão. O resultado foi que o povo que tinha estima por nós, pouco a pouco, por causa das nossas acções militares, artilharia, aviação, acções das forças terrestres, com o passar dos dias cada vez mais se afastava de nós, e tornámo-nos num inimigo. Quando chegámos à retirada das tropas, a maior parte da população tinha-nos virado as costas e só uma pequena parte dos governantes e militares ainda mantinha algum respeito por nós”.

Auchev faz notar ainda que o objectivo da entrada das tropas soviéticas era fazer um Afeganistão à imagem da URSS. “Queríamos construir o Afeganistão soviético. A forma de vida soviética era o que queríamos impor ao Afeganistão. E adianta que “ a actual coligação está a fazer a mesma coisa. Tenta impor uma sua visão do Afeganistão ”. Do ponto de vista do general, o que seria preciso fazer “é conquistar a mente e o coração do povo afegão. E também a barriga, porque hoje o povo do Afeganistão não ganhou nada. Como viviam pobremente, assim continuam, como havia corrupção, assim continua, tal como haviam ricos assim continuam... Como havia tráfico de narcóticos, assim continua. O Afeganistão não se tornou num país, é um território dividido, com governantes que não têm influência nas províncias”.Auchev diz que um elemento novo, relativamente à situação que enfrentaram os soviéticos, é a presença dos talibãs. “Esta é uma nova força que tem uma grande influência. Do ponto de vista do armamento são fracos mas do ponto de vista da ideologia é muito forte. Contra uma ideia pode-se combater só com outra ideia”.

 

    No debate que se realizou da agência de informação “Novosti”, participaram vários especialistas entre os quais Viktor Korgun, histórico, director do sector do Afeganistão do Instituto Oriental da Academia das Ciências da Rússia. Uma das questões que Korgun abordou é a insuficiência de procurar uma solução por meios militares. “A estratégia dos EUA de aumentar os efectivos militares, eu considero correcta. Mas só em parte. Resolver o problema afegão não é possível só com meios militares, isso mostra a experiência mundial de resolução de conflitos locais. Ao lado da via militar é preciso procurar vias alternativas”. Segundo o professor “ Ao lado da via militar é preciso procurar vias alternativas. Em primeiro lugar é o desenvolvimento da economia afegã”. Korgun admite que se tem mandado muito dinheiro para o Afeganistão, “ mas a maior parte desse dinheiro não é gasto de acordo com o fim a que tinha sido destinado. Vai parar a diversas bolsas e diversos bolsos e ao povo afegão chega no máximo um quinto do que foi destinado à reconstrução”. Outra questão que Korgun considera deficiente é a situação das forças armadas afegãs. “As forças armadas que se criaram no Afeganistão não estão à altura das tarefas que lhe competem, da liquidação do terrorismo no Afeganistão. O exército é fraco e pobre, os EUA recusam-se a fornecer-lhes armas pesadas, e eles combatem com velho armamento soviético. A polícia é completamente corrupta. Muitos têm mais medo da própria polícia do que dos talibãs”. Enfim a questão dos talibãs, segundo alguns força política com a qual se deve dialogar, segundo outros, uma organização terrorista, simplesmente a combater. “No que diz respeito aos talibãs, é preciso entrar pela via do diálogo. Não há outra saída, é preciso encontrar maneira de entrar em contacto com os talibãs. O movimento talibã é uma coisa muito fragmentada, amorfa, não é um partido político. É uma organização, um grupo, mas é mais um conglomerado de diversas forças políticas, onde há grupos de bandidos e criminosos, barões da droga, o partido islâmico do Afeganistão, é um movimento muito fragmentado, mas há la forças com as quais se pode entrar em diálogo”.

Quanto ao significado dos ataques de hoje, Korgun considera que esses podem representar uma intensificação da actividade bélica dos talibãs em face à política da nova administração norte-americana. “Eu penso que as explosões de hoje em dois Ministérios em Cabul, fazem parte da estratégia comum do movimento Talibã dos últimos tempos, que alarga a escala das acções de guerra, e também com a chegada ao poder da nova administração norte-americana, que falou em mudar a estratégia da luta contra o terrorismo no Afeganistão. Já hoje 2,5 mil soldados americanos foram deslocados para o Afeganistão... Estas explosões e a intensificação das acções de guerra dos talibãs são uma resposta directa à nova estratégia que ainda não existe mas que já se está a iniciar”.

De qualquer forma, o Afeganistão é um caso suficientemente bicudo para exigir os esforços conjuntos de todos os que conhecem alguma coisa do que por lá se passou e se passa agora.



publicado por edguedes às 20:06
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