as coisas que conta um português que anda pela Rússia

Sábado, 21 de Novembro de 2009
ALEXANDRA: AUTORIDADES RUSSAS PREFEREM NÃO FALAR

 (artigo feito para o JN, limitado a 1500 caracteres, mas que não apareceu na edição on-line)

 

Pretchistoe, onde vive a Alexandra, desde que a mãe, Natália Zarubina, a levou para a Rússia, tem sido visitada por funcionários de Moscovo, para avaliar as condições em que a menina vive. No entanto, Iuri Kudriavtsev, vice-chefe da administração municipal e presidente da comissão de menores, preferiu não arriscar declarações e indicou que a posição oficial se pode inferir das declarações de Natália Iakovleva, responsável pelos direitos das crianças no gabinete do “encarregado para os direitos humanos” junto da presidência russa, ao jornal “Moskovski Komsomolets”. Contactada pelo JN, Natália Yakovleva limitou-se a afirmar que “acompanhamos o desenvolvimento da situação e preocupamo-nos com o destino da Sandra, e com a defesa dos seus direitos e interesses”, mas considera que “uma atenção exagerada da Imprensa” não ajuda, e prefere não fazer outros comentários. Diz que o jornal moscovita que reporta as suas declarações o fez, fora do contexto e sem o seu consentimento. Segundo o matutino russo, Iakovleva tinha afirmado que “as conversas sobre a entrega da Sandra a um orfanato são prematuras. Hoje não se coloca a questão da privação dos direitos maternos à sua mãe.” Na sua opinião, “a situação não é tão crítica como a tentam apresentar na Imprensa”.

Entretanto, a agência Lusa informou que foi enviada uma petição ao presidente russo, Dmitri Medvedev, assinada por 700 cidadãos de 15 países a pedir envie “à vila de Pretchistoe uma comissão para esclarecer como é que são cumpridos os compromissos assumidos pelo Estado Russo”, no referido caso.

 

Comentários adicionais.

As tentativas de fazer dizer qualquer coisa à Sr.a Natália Iakovleva revelaram um receio da comunicação social, um pouco estranho para quem ocupa um cargo publico no domínio dos direitos humanos. Primeiro, ao telefone ela mostrou-se pouco disponível e insistia em que não queria dizer nada, porque a Imprensa “distorce” o que se diz. Mas confrontada com as declarações que já tinham aparecido no Moskovski Komsomolets e que ela dizia que tinham sido distorcidas, acabou por concordar com um encontro “dentro de uma hora”. Quando lá cheguei ela fez questão que esperássemos por um colega, Grigori Bondarev, conselheiro do encarregado para os direitos humanos junto da presidência, "para não falar sem testemunhas". Conversámos um bocadinho, mesmo se a Sr.a Iakobleva com um esforço evidente evitava adiantar informação sobre a questão da Alexandra. Quando comecei a fazer perguntas ela fez-me a proposta de fazer a perguntas por escrito que ela responderia por escrito. Assim poderia esta mais segura do que dizia e podia consultar-se. Aceitei. Vim para casa e pus-me a fazer a perguntas. Entretanto eram 19.00 horas e ela só as viu no dia seguinte. Por volta das 15.00 telefona-me a dizer que queria responder oralmente. A resposta era, além de uma crítica aos meios de comunicação (que em geral são os culpados pelos males que há no mundo), limitar-se a dizer que estavam a seguir a situação e que não queriam fazer comentários. O que é que poderia haver de tão secreto???

Durante a pequena conversa que tivemos no seu gabinete, eu percebi que Natália Iakovleva estava contrariada com a publicação do Moskovski Komsomolets, mas que o que ali reportavam eram de facto palavras suas. As suas queixas é que estavam fora do contexto e que ninguém a tinha avisado de que lhe queriam fazer uma entrevista.

Enfim, os hábitos de não revelar o que se faz, mesmo se de interesse público, continuam a estar presentes por estes lados.



publicado por edguedes às 15:47
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Sexta-feira, 4 de Setembro de 2009
OUTRA VEZ EM PRETCHISTOE

 Há alguns dias atrás desloquei-me novamente a Pretchistoe, a aldeia onde vive a Alexandra, que veio em Maio para a Rússia, depois de a mãe, Natália Zarubina, ter tido a sentença favorável do tribunal. A minha impressão sobre a Alexandra é que está agora muito mais à vontade, arranjou amigas e exprime-se razoavelmente em russo. Comparando com as fotografias que eu tinha tirado há três meses, nas tiradas agora não é difícil de apanhar a Alexandra a sorrir. Ajuda certamente a relação com a Nastia, que parece estar sempre a “puxar” pela Alexandra, e o convívio com outras crianças no infantário.

A situação geral da família é apresenta “fragilidades”. Nas aldeias russas abunda o álcool e a casa dos Zarubin não é excepção. No entanto, quando la estive, todos estavam perfeitamente normais. A pessoa que segura o leme da família é a avó Olga, que, não obstante esteja oficialmente reformada, continua a fazer a contabilidade num asilo, e dá de comer a toda a família. A irmã mais velha, a Valéria, mudou muito, pelo menos externamente, penteado, maneira de vestir. Dezasseis anos, é normal... O primo, Alexandre, de dez anos, que antes parecia o candidato a parceiro de brincadeiras da Alexandra, apareceu pouco. Talvez por o “espaço” estar ocupado pela Nastia...



publicado por edguedes às 10:26
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Domingo, 24 de Maio de 2009
PRETCHISTOE

 

Na quarta-feira telefonaram-me do JN, a dizer que estava a chegar a Moscovo a Alexandra com a mãe. Tiveram que me explicar quem era a Alexandra e a mãe porque, até então, a imprensa russa não lhe tinha dado grande relevo, e eu estava um bocado por fora da situação. Tratava-se da menina russa, cujo caso tinha andado pelos tribunais portugueses, e que por decisão do tribunal da relação de Guimarães, foi entregue à mãe biológica. Para dizer a verdade, quando fui verificar, a Alexandra e a mãe, Natália Zarubina, já estavam em Moscovo. No dia seguinte, a redacção do JN insistiu para que eu fosse ver onde é que estava a Alexandra. Eu precisava pelo menos de saber onde era a terra, dado que as notícias falavam só de província de Iaroslavl, e esta deve ser do tamanho do território português. Com um bocado de trabalho lá se chegou a que a terra se chamava Pretchistoe, cerca de 100 km a norte de Iaroslavl.

 

(casa onde vive a família da Alexandra)

 

 

Depois conseguiu-se até arranjar um telefone, e foi possível fazer um contacto antes de me meter à estrada para uma viagem de 360 km sem saber bem para onde. Seguindo um conselho de um colega que foi correspondente de guerra da “Novaia Gazeta”, Viatcheslav Ismailov, a gente tem sempre de saber qual é a situação no sítio para onde vamos e com quem é que nos vamos encontrar. É claro que em Pretchistoe não há guerra, mas as terrinhas do “interior” russo podem ser pouco recomendáveis para quem chega com um carro com matrícula de Moscovo, e ainda por cima estrangeiro.

(Alexandra com a mãe, Natália, a irmã Valéria e o primo Alexandre)

 

 

Foram 5,5 horas para lá e mais 5 para cá, com uma noite em Iaroslav, para poder escrever e mandar tudo. Valeu-me o facto de que Iaroslavl eu conheço relativamente bem, e a estrada de Moscovo para lá é a que eu percorri mais vezes, para fora de Moscovo. Mas deu para falar com a menina, com a mãe e com o resto da família. Os detalhes são, por força das circunstâncias para o JN, uma parte do material foi já publicado. Pretchistoe é uma aldeia como tantas outras. Não é muito pequena e parece que tem cerca de 5 mil habitantes, mais a Alexandra e a mãe.  

 

As casas são quase todas de madeira, como é comum nas aldeias russas, e embora digam que a aldeia existe há 300 anos, a única coisa com ar de ter uma certa idade é a Igreja, que continua meio destruída, com uma tímida tentativa de reconstrução em curso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 (cozinha tradicional russa. A Alexandra ao fundo está a trepar para o leito em cima do forno de tijolo)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(igreja de Pretchistoe)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aliás, de um grande esforço de reconstrução precisa também Iaroslavl, uma das cidades do “anel de ouro” de Moscovo, e que conservou a maior parte das construções dos séculos XVIII e XIX.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Iaroslavl, no próximo ano vai comemorar os 1000 anos desde a data da sua fundação. Consta que quando o príncipe Iaroslav 'o sábio', matou uma ursa naquele local, decidiu que ali seria edificada uma fortificação. 

 

O "Kremlin" de Iaroslvl fica ao lado de um monumento que se diz se o local onde o príncipe matou a ursa, portanto o local da fundação da cidade.

 

 

 

 

 

 

 

(interior do "Kremlin" de Iaroslavl)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



publicado por edguedes às 15:20
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