Algumas das principais organizações de defesa dos direitos humanos, presentes na Rússia, acusaram as autoridades de permitir práticas repressivas nalgumas repúblicas do Cáucaso do Norte. Lev Ponomariov, dirigente do movimento “Pelos Direitos do Homem”, considera que se deve falar em “esquadrões da morte”, dados os métodos com que algumas estruturas policiais actuam.
O fenómeno não é novo, mas alguns acontecimentos recentes levaram os defensores dos direitos humanos a tentar novamente fazer-se ouvir por quem pode tomar medidas. Segundo Ponamariov, o caso recentemente ocorrido no Daguestão, em que, de cinco homens raptados, dois conseguiram fugir e testemunhar o que se tinha passado com eles, é fundamental para perceber o mecanismo de repressão contra cidadãos civis.
Svetlana Issaeva, dirigente da organização “Mães do Daguestão pelos Direitos Humanos”, apresentou uma lista de 25 casos de raptos, ocorridos desde o princípio do corrente ano, na república do Daguestão, dos quais 12 foram posteriormente encontrados mortos, 5 foram postos em liberdade, 3 encontram-se sob processo, 3 estão desaparecidos e 2 (citados anteriormente) conseguiram fugir.
Estes dois últimos são Islam Askerov e Arsen Butaev. Conforme referiu Butaev, ele e o irmão foram levados por um grupo de encapuçados armados que lhes barrou a passagem na estrada, e conduzidos para uma cave, onde já estavam outros três detidos. Mais tarde levaram-os de carro para um descampado e, um por um, sentaram-nos num automóvel onde cheirava fortemente a clorofórmio. Arsen Butaev e Islam Askerov foram os últimos a serem colocados no automóvel e conseguiram libertar-se e fugir. O outros três foram encontrados, mais tarde, no carro incendiado.
Segundo Alexandre Tcherkassov, da organização “Memorial”, o caso não é único, nem exclusivo do Daguestão. “Na Inguchétia, foi descoberta uma situação análoga, um carro incendiado, com quatro cadáveres”, refere Tcherkassov, que considera que os métodos dos esquadrões da morte “têm raízes antigas”, e no Cáucaso do Norte, “são utilizados há quase 10 anos”.
“Já em 2000 que o “Memorial” denunciou situações de prisões ilegais, torturas e execuções sem julgamento”, afirma Tcherkassov, segundo o qual “em 10 anos as autoridades podiam ter posto ordem no Cáucaso no Norte”. “Na Chechénia, depois de dois anos de relativa calma, estamos numa nova onda de atentados terroristas, levados a cabo por suicidas”, refere Tcherkassov, e sublinha que por outro lado deparamo-nos com “raptos e assassínios de pessoas”. Na sua opinião os “siloviki” (entendendo-se por esta palavra, polícia, serviços secretos e forças militares) estão fora de controle, “porque não é possível que venha de cima uma ordem de raptar, assassinar e queimar cidadãos”.
Svetlana Issaeva fez notar que, no Daguestão, o facto de um cidadão ser muçulmano fervente é já um motivo para desconfiarem dele. Mas, ultimamente, mesmo os que não apresentam características de fanatismo têm sido vítimas da repressão. Sublinhou que uma das coisas referidas pelos dois homens que conseguira fugir é que quando estavam detidos na tal cave, ouviram os sequestradores falar num russo perfeito, sem sotaque regional, coisa rara no Daguestão. Em Makhatchkala, a capital da república, têm havido manifestações de protesto contra os raptos e a indiferença das autoridades locais. A organização “Mães do Daguestão pelos Direitos Humanos”, viu o seu escritório em Makhatchkala incendiado e houve confirmação que se tratou de fogo posto.