as coisas que conta um português que anda pela Rússia

Sexta-feira, 4 de Setembro de 2009
SOBRE O ASSASSÍNIO DE NATÁLIA ESTEMIROVA

  

Tive ocasião de trocar impressões sobre o andamento das investigações do caso do assassínio de Natália Estemirova com Svetlana Gannuchkina, da organização “Memorial”, e que estava em contacto permanente com Natália Estemirova.

Svetalna Gannuchkina pensa que “eles já sabem tudo, parece que o caso não era assim tão difícil de desvendar”. “Eles” são os investigadores que andam a seguir o caso. As impressões de Gannuchkina resultam das últimas sessões em que foi chamada a depor. Diz que pelas perguntas que fazem se tem a impressão de que o caso já esteja perfeitamente claro. A pergunta que fica sem resposta é se o público também vai ser informado da versão completa da tragédia ocorrida na Chechénia a 15 de Julho. 

 

 

 

 

Svetlana Gannuchkina



publicado por edguedes às 09:23
link do post | comentar | favorito

Sexta-feira, 17 de Julho de 2009
MORREM PRIMEIRO

 

 

 

Na conferência de Imprensa que se realizou ontem por causa do assassinato de Natália Estemirova, Ludmila Alexeeva, presidente da “Federação de Helsínquia” para os direitos humanos, sublinhou que os inimigos de Ramzan Kadirov, são frequentemente eliminados, e não só na Chechénia. Ludmila Alexeeva não apresentou certamente provas de que haja um envolvimento da presidência da Chechénia com a morte de Natália Estemirova, nem de Sulim Iamadaev (morto no Qatar), nem de outros que foram assassinados em Moscovo. A tarefa de levar a cabo investigações e apresentar provas cabe a outros órgãos. O que Ludmila Alexeeva critica é que as investigações não tenhas chegado a tocar a elite chechena, mais não seja para provar que não está envolvida numa série de crimes, nos quais é “suspeita” de ter motivos para os realizar. Ludmila Alexeeva começou por verificara que na sala do “Centro Independente de Imprensa”, apinhado de gente disposta a enfrentar uma verdadeira sauna, os jornalistas russos “estavam em evidente minoria”. “Matar uma defensora dos direitos humanos, já não é notícia”, comentou.

Conforme referiu Alexandre Tcherkassov, dirigente da organização “Memorial”, Natália Estemirova era uma pessoa de uma enorme coragem, “um verdadeiro 'homem' da Chechénia, que são poucos, e matam-nos primeiro”. Oleg Orlov, presidente do "Memorial", sublinhou que Natália Estmirova era “uma pessoa sem medo, uma verdadeira defensora dos direitos humanos, que não só investigava e relatava crimes cometidos, mas quando sabia que estavam a violar os direitos de alguém, ela atirava-se logo em defesa dessa pessoa, e conseguia ser recebida pelas autoridades, escrevia requerimentos, acompanhava as pessoas junto dos representantes das autoridades, impedia, ela mesma, as acções ilegais das autoridades, atravessando-se no seu caminho”.

Entre as coisas referidas na conferência de Imprensa e nos comunicados, ressalta o facto de que Natália Estemirova tinha recentemente denunciado alguns factos que desagradaram fortemente a Ramzan Kardirov. Alexandre Tcherkassov considera que a “execução pública” ocorrida no dia 7 de Julho na aldeia de Akhkintchu-Barzoi (descrito em baixo), foi “a última gota”, das denúncias feitas por Natália. De acordo com os dados do “Memorial”, o número de pessoas raptadas durante este ano na Chechénia vai já em 35 casos. No ano passado foram 42. No ano anterior, 35. A tendência não parece ser no bom sentido. Outra dos temas de que se ocupava Natáli Estemirova era as repressões contra os familiares dos guerrilheiros. São vários os casos relatados em que foram incendiadas as casas de familiares de “bandidos”, com a finalidade de os intimidar a renderem-se.

Quanto à possibilidade de se encontrar os culpados da morte de Natália, Tcherkassov comentou que na Chechénia, nos últimos anos houve cerca de três mil casos de raptos e desaparecimentos. “Só num único caso, o processo foi até ao fim e o culpado está a cumprir a pena de prisão. Nesse caso tiveram um papel decisivo três pessoas: Anna Politkovskaia (jornalista), Stanislav Markelov (advogado) e Natália Estemirova (defensora dos direitos humanos)”. Os três foram assassinados.

Tcherkassov diz que cerca de metade das publicações de Anna Politkovskaia, a denunciar injustiças cometidas na Chechénia, contaram com a colaboração de Natália Estemirova, em casa da qual normalmente a jornalista ficava quando estava em Grozny. Mas Politkovskaia tinha o cuidado de não citar Estemirova para não a expor. Os dirigentes das organizações de defesa dos direitos humanos admitem que têm receio de continuar a trabalhar na Chechénia, e arriscara a vida dos colaboradores. Segundo Oleg Orlov, a forma descarada como Natália foi raptada e morta foi “demonstrativa”.

 

EXECUÇÃO PÚBLICA

No dia 7 de Julho, por volta do meio-dia, o chefe da polícia da região de Kurtchaloi, bateu à porta da casa da família de Rivzan Albekov, na aldeia de Akhkintchu-Barzoi, e perguntou por Rivzan. Como este não se encontrava em casa a filha deu ao polícia o número do seu telemóvel. Entretanto fora montado um posto de controle perto da aldeia vizinha de Djugurti. Parece ter sido neste posto de controle que Rivzan e o seu filho Aziz foram detidos quando voltavam a casa num automóvel “Niva” (fabrico russo). Por volta da meia-noite chegaram a Akhkintchu-Barzoi homens armados, vestidos com fatos camuflados, pararam no centro da aldeia onde estava um grupo de jovens, retiraram do carro Rivzan, vestido só com a roupa interior, perguntaram-lhe se “tinha ajudado os bandidos”, o que Rivzan negou. Então deram-lhe vários tiros e disseram que isto é o que irá acontecer aos que ajudarem os bandidos. De acordo com as informações do “Memorial” não se sabe onde possa estar e o que poderá ter acontecido ao filho Aziz.

  



publicado por edguedes às 12:01
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 15 de Julho de 2009
NATÁLIA ESTEMIROVA

 

  

 

 

 

Passou-se menos de meia-hora desde que apareceu no portal “newsru.com” a notícia, dada em tom de alarme pelos seus colegas do “Memorial”, de que Natália Estemirova tinha sido raptada em Grozny, e a trágica notícia de que o seu corpo tinha sido encontrado na Inguchétia, com dois tiros (pelo menos). Desde 1998 que Natália Estemirova se dedicava à defesa dos direitos humanos. Fez filmagens do bombardeamento do mercado de Grozny, um dos primeiros massacres da segunda guerra chechena, e investigou o bombardeamento de uma coluna de refugiados. Denunciou algumas “operações de limpeza” levadas a cabo pelas forças federais, como em Novi Atagui, em Março de 2000, onde conseguiu entrar apesar do estreito controle das forças federais. Natália Estemirova resistiu à guerra e à situação de pós-guerra em que a Chechénia estava em “regime especial de luta contra o terrorismo”. Não resistiu à Chechénia “pacífica”, em Grozny que Ramzan Kadirov diz ser mais segura do que a maioria das cidades europeias. O facto é que Natália continuava a denunciar. Dizia que o número de desaparecidos está a aumentar. Denunciou recentemente o caso de uma execução pública na povoação de Akhkintchu-Borzoi. Desde o início deste ano os defensores dos direitos humanos contaram 35 casos de “desaparecimentos” na Chechénia. Ultimamente Natália Estemirova investigou o caso de Madina Iunussova, de 20 anos, mulher de um suposto rebelde, morto numa operação militar recente. O corpo de Madina foi entregue à família acompanhado de ameaças, e com ordem para a enterrarem “sem barulho”. Segundo Alexandre Tcherkassov do “Memorial”, o assassinato é encarado “como vingança por parte dos elementos das forças”. Natália Estemirova tinha colaborado com Anna Politkovskaia na denúncia de crimes, nomeadamente cometidos por um oficial de alcunha “Kadet”, cujo caso foi levado a tribunal. “Ela trabalhava na Chechénia e o seu trabalho irritava as autoridades da república da Chechénia”, comentou Tcherkassov.
Existem vários indícios de que pessoas que “irritam” as autoridades chechenas, desaparecem. A justiça, pelas razões mais variadas tem dificuldade em chegar ao seu objectivo. O caso de Anna Politkovskaia continua por esclarecer. Iamadaev, o militar que comandava o “Batalhão Oriente”, e que escapava ao controle de Kadirov, foi morto no Qatar, depois de ter sido demitido. As autoridades do Qatar, acusaram Adam Delimkhanov, deputado e colaborador directo de Kadirov. Obviamente, as autoridades russas não entregaram Delimkhanov, que continua activo e ao que parece dirige até operações militares na Chechénia e na Inguchétia. O Cáucaso tem as suas leis próprias. Moscovo conseguiu um certo tipo de convivência com a “nova elite” da Chechénia e não tem intenções de estragar o arranjo por um caso ou outro de alguém que ficou pelo caminho, sobretudo se escolheu um caminho de denunciar injustiças.

 



publicado por edguedes às 22:27
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Maio 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

24
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

SOBRE O ASSASSÍNIO DE NAT...

MORREM PRIMEIRO

NATÁLIA ESTEMIROVA

arquivos

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Novembro 2009

Setembro 2009

Julho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

tags

todas as tags

links
blogs SAPO
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub