O tribunal retomou hoje o julgamento do segundo processo contra Mikhail Khodorkovski e Platon Lebedev. Passada a fase preliminar, o tribunal debruça-se agora sobre o conteúdo das acusações. O caso Yukos volta a ser argumento de primeira página para a Imprensa russa. Numa citação atribuída a Mikhail Khodorkovski as acusações são resumidas do seguinte modo: “Num lugar indeterminado, num momento indeterminado, pessoas desconhecidas (ou Khodorkovski) cometeram actos indeterminados, que por vias desconhecidas levara a consequências indeterminadas, as quais nós (Procuradoria) classificamos como furto de petróleo, esse petróleo não se sabe que fim levou”.
É claro que a defesa tenta ridicularizar ao máximo o trabalho da Procuradoria. A questão é que não se sabe se isso serve para alguma coisa. Ao contrário do caso do assassínio de Anna Politkovskaia, no caso Yukos não há corpo de jurados, e quem decide é um juiz experiente que percebe muito bem como lhe convém tratar os argumentos apresentados pelos procuradores.
Hoje, Khodorkovski assumiu directamente a defesa do seu caso e afirmou que conhecia bem o processo e considerava que “o processo era anti-natural do ponto de vista da lógica”. Considerou que a arquivação do processo seria “juridicamente justificado” sobretudo porque “a Procuradoria se recusa a realizar um verdadeiro e justo processo”. Na sua argumentação, o ex-patrão da Yukos tentou ridicularizar os critérios da acusação. Em parte estes baseiam o “furto” de quantidades astronómicas de petróleo no facto de que a Yukos teriam comprado petróleo a preços abaixo do preço de mercado. Khodorkovski diz que nesse caso os procuradores são cúmplices porque entre 1998 e 2003 compraram gasolina a preços abaixo do estabelecido na bolsa de Roterdão. (Note-se que a gasolina na Rússia custa sensivelmente metade do que na maior parte dos países europeus.) Um outro dos pontos da acusação é de ter “furtado” acções da “Vostotchnaia Neftianaia Kompania” (Companhia Oriental de Petróleo) no valor de cerca de 100 milhões de euros. A defesa considera que o prazo para este caso, de acordo com a lei, já caducou, dado que se refere a acontecimentos de 1998 e a já se passaram mais de dez anos. A Procuradoria parece que não aceita o argumento e o juiz, por enquanto não decide nada.
O que foi a atracção do dia, no tribunal, foi a lista das testemunhas que a defesa quer ver na aula do tribunal. Entre estas está Vladimir Putin, Viktor Tchernomirdin (ex-primeiro-ministro, actualmente embaixador na Ucrânia), Evgueni Primakov (ex-primeiro-ministro, director da Câmara de Comércio e Indústria), Nikolai Patrichev (ex-chefe do FSB, actualmente secretário do Conselho de Segurança), Alexei Kudrin (ministro das Finanças), etc.... De acordo com o advogado de Khdorkovski, Vadim Kliuvgant, membros do governo e de outras estruturas encontravam-se frequentemente com Khodorkovski e “discutiam questões sobre o desenvolvimento e estratégia da indústria petrolífera”.
Entretanto, de acordo com uma sondagem efectuada pelo Centro “Levada”, resulta que a opinião pública russa vai-se tornando mais favorável a Khodorkovki. 35% considera que, sobretudo em tempos de crise económica, Khodorkovski poderia fazer alguma coisa de útil, cá fora, enquanto que só 19% consideram o contrário. 39% consideram-no um gestor inteligente e talentoso, que conseguiu tirar proveito das condições em que se encontrava nos anos 90. 48% afirmam que Khdorkovski não violou a lei mais do que qualquer outro homem de negócios, dos que enriqueceram durante aqueles anos. 37% estão de acordo com a versão de que o ex-patrão da Yukos foi preso porque “se travessou no caminho dos grandes desta terra”.